A miragem de Isabel

quarta-feira, março 17, 2010 0 comentários
Chilpéric, Henri de Toulouse-Lautrec

Já era disforme. A vista de Isabel imaginava coisas e não mais via. Um borrão de verde, uma lasca de azul, uma mancha de amarelo... os olhos estavam vidrados, esquizofrênicos, criando formas externas. Era tudo mais verdade e mais real e não poderia não ser, pois era bom! Isabel com os olhos em fuga corria solta como criança em ciranda atordoada de êxtase; fugia como pássaro de gaiola que encontrou a brecha que o tempo já se esquecera de procurar; tinindo e trincando, os cantos dos lábios estavam mais largos parecidos com felicidade... Isabel sabia bem o que era. Não entenderia perguntas, por isso não saberia elaborar respostas. Passado e futuro eram caixinhas de mentiras e Isabel só acreditava em presente. O momento era intensidade e ela só ouvia a voz de Dagmar lhe dando ânimo, “Isso! Alimente, alimente!”. As sinapses corriam como flechas soltas e o tempo não existia, por isso não havia mira só miragem. E ela só dizia e repetia, “Vamos pro mundo, vamos pro mundo.”. Os pés planando de tanto rodopiar soltavam faíscas quando tocavam o chão na cadência do samba. A senhora que passava na calçada ao lado vendo aquilo só pôde dizer: - A menina dança como um balanço pendurado no ar!

Peter Zoster

Esse texto utiliza frases ou nomes de músicas dos Novos Baianos.

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