“Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.” (Fernando Pessoa – Livro do Desassossego)
Ultimamente ando me encantando com pouca coisa que dê consistência ao meu modo de encantar. Não é desesperança, nem desilusão. É desassossego. A inquietação que me acompanha dia e noite, noite e dia vai gradativamente sendo substituída pelo desassossego. Me encanto atualmente com dois livros: A Genealogia da Moral, de Nietzsche e o LIVRO DO DESASSOSEGO de Fernando Pessoa. O do Nietzsche eu vou falar depois que terminar e o do Pessoa vou falar, creio que para sempre. Eu tenho o hábito de ler até três livros simultaneamente. Principalmente quando os assuntos são correlatos. No caso atual são desassossegos da alma, o espírito inquieto e as idiossincrasias humanas que estão nesses. Mas o do Pessoa eu acho que vou lê-lo pelo resto de minha vida, até o tanto de vezes que a senilidade me permitir. Ele lança luzes nos cantos obscuros do espírito em uns momentos e joga na escuridão convicções em outros. Se o autor estivesse vivo, provavelmente ia estar ainda mais desassossegado, com medo que sua obra máxima (humanamente falando) caísse nas prateleiras de auto ajuda pelas mãos gananciosas de editorialistas de vender palavras a qualquer custo. Mas ele cabe. Cabe no desassossego de qualquer escritor, de qualquer poeta, de qualquer pensador que viva naquele estado de imersão e emersão. Que não se contente com a superfície rasa do cotidiano das coisas dessa vida. Aqueles mergulhos que nos fazem pessimistas. Se bem que o pessimismo em doses moderadas funciona como um motor humano em busca de melhorar-se. Eu imagino ele pensando assim: daqui a alguns anos pode nascer um tal de José Cláudio no Brasil e o menino vai ser desassosegado quem nem eu. Não vai ser nunca um poeta do meu quilate, mas vai ter umas inquietações que se um dia esses escritos forem parar em suas mãos vão virar um livro de cabeceira até que a morte os separe. Acertou na mosca, mestre! O livro não é desses que se lê linearmente (Eu, falando sozinho: posso recomendar mas não posso querer direcionar a leitura de quem quer que seja. Sossega, rapaz!) Vou lendo-o por onde abro, pois tem questionamentos existenciais de toda a espécie que um cidadão procura, se equilibrando humanamente em idiossincrasias. De trás para frente e de frente para trás. Vai da espremida máxima do pensamento à distensão extrema. Vai da filosofia que permeia os pensamentos a emoções que vasculham a alma e deixam o coração ora palpitando loucamente, ora em batidas firmes e potencializadas pelas coincidências de gozos entre palavras. Pode aparecer algum outro, mas por enquanto é esse o livro da minha vida.
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