Katyuscia Carvalho - A Poetisa Vermelha

quarta-feira, agosto 08, 2012 0 comentários

Katyuscia Carvalho
 

poesia de Katyuscia Carvalho nos orienta a um senso coletivo, um existir nos outros é assim que percebo a essência de seus versos. Um estar em tudo e em qualquer tempo, ao mesmo tempo e solamente:  sou essa tenda para os exilados“ verseja a poetisa em seu poema Breathturn. Noto sua humanidade, sua ideologia e seu teor do bem comum  gritar em poemas como Apêndice:  vives na borda sempre à margem“ e um duelo sincero a ditadura do tempo, uma audácia as crenças tradicionais em A Rosa que não Seca:A  vida sempre fora uma criança mais nova do que eu era/ se voltei foi para buscar o instrumento da música que esqueci no meu corpo de antes ...”


Apreciem sem moderação:




:: Nitescência ::

Usas frases impermeáveis
para te protegeres do frio alheio

Eu faço das palavras
a minha lenha



:: Apêndice ::

És beira és rasa
não aprofundas

vives na borda
sempre à margem
(e és margem em todas as bordas)

Tudo o que a vida te roça
em ti se encalha




:: Ilogística ::

que nunca seja tarde acordar
para um lugar
                      e inabitá-lo

que nunca seja lógico
desfragmentar-se para caber
numa identidade
                          mundial





:: Breathturn ::

[ sou essa tenda para os exilados
vincada no meio de um mapa na palma
da mão
onde linhas me guiam como estrelas presas
por um cordel ]





:: À rosa que não seca ::

A  vida sempre fora uma criança mais nova do que eu era

se voltei foi para buscar o instrumento da música que esqueci no meu corpo
de antes, sobre uma cancela rangente - repara

não foi possível reter o poente na minha garganta

para que relembrar os ritos das chuvas quando as sedes
de todos os rios já secaram, menos meu cabelo?

um recorte, com precisão de estribilho, nesse aboio obstinado
rompendo o álbum em desamparo a tudo o que não atino, ou apuro

chegar de volta a essa voz de asa rasgada, ser recebida com tambores
d’água, rastros de latas de atlântico nos olhos

corredeiras para antigos barcos de papel

não sei da força - e que força não me sobre - só
o que conseguir arrancar dela, como a uma brava rosa muito rara



 
Nascida com as águas de março, pernambucana de raízes e dialeto. Formada em Letras, lecionou todo o tempo em que viveu no Brasil, desenvolvendo projetos de inserção de saraus de poesia em salas de aula. Emigrou por amor. Fia, em tronco indígena – Kanauã Kaluanã –, uma rede poética com fibras híbridas de vozes que vibram pelo mundo. 

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