DAS NOVAS BANDEIRAS Literatura de combate e poesia de ação.

domingo, julho 22, 2012 0 comentários


Poema de Akira Riber Junoro


“Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...”
Manuel Bandeira – Rondó dos Cavalinhos



Estamos fartos do lirismo 3x4
Do lirismo embalado para viagem
Com molho especial, alface, dois hambúrgueres e gergelim
(E tão apetitoso quanto plástico com papelão)
Do lirismo academiesco – simiesco – dantesco
Das cerimônias de lançamento com champanhe
Autógrafos elegantes feitos na hora
Canapés encomendados no melhor bufê
Com pavês de atum, presunto e regras de etiqueta
(e flashs e zoons e clicks)
Galicismos enferrujados – mindinhos em riste
e hipócritas tapas nas costas
e parabéns para você
e discursos para o titio e a titia
magistrados, empresários e diplomados
o mundo urgindo lá fora
e a poesia como um status nas páginas

Estamos fartos das convenções modernas
Do lirismo compre dois e leve um
Do lirismo baixos teores
Das críticas esvaziadas de ação
Do Eu acima de nós
E de um modelo que embora criticado
É seguido
(e almejado)

Ficamos extenuados com a exploração da miséria
Com a ausência de transformações e temos nojo
Do lirismo que acompanha o descamisado
E o abandona à própria sorte
(que zomba de sua fome
que caga sobre sua morte)
que faz promessas e não as cumpre
Cansados estamos de ler
E de não sentirmos o empenho por trás das letras
Que provoque uma considerável ação.
Na arte,
estamos contra os que esperam quaisquer recompensas
Além da transformação poética

Queremos o lirismo transitório
Sem placas ou marcas de propriedade
Teremos que eliminar os copyrights
Todos Direitos Reservados
E o restante da ladainha
Buscamos algo diferente do tabelado
Do computado e deduzido nos impostos
Não queremos códigos de barras em nossas obras
Seremos indiferentes ao mecanismo
Nos infiltraremos maliciosamente nas engrenagens
E divulgaremos nossos próprios discursos
Construindo nossa própria mídia

(Se a arte tem que ser comercializada
Que seja nas feiras e não nos shoppings
Se a arte tem que ser comercializada
Que seja como um abacate)

O que queremos não pode estar só nos livros
Tem que estar em tudo
Queremos o lirismo que explode espontaneamente nas ruas
Das pichações, manifestações e passeatas.
Queremos a inventividade da desconstrução
Do rompimento com a modernidade
O sangue pingado nas calçadas
Memorizado em luta cotidiana
Exigimos Ação na Poesia!
A arte em linha reta é inútil!

Vamos sabotar os artistas do velho modelo
Seus contratos milionários com a reação
Espreitaremos os sorrisos rotineiros
E enfiaremos um punhal nas vísceras do editor
Inseriremos bombas-relógio na produção intelectual
E nos apropriaremos de tudo aquilo que quisermos
Porque simplesmente não suportamos o lirismo pós-moderno
O lirismo papai-e-mamãe
O lirismo pasteurizado
O lirismo light – zero por cento de açúcar
Zero por cento de gordura –
O lirismo vegetariano de quem come carne
E peida ovos

Não queremos nem sequer o lirismo dos clowns de Shakespeare
Este já tem a data de validade ultrapassada
Queremos o lirismo dos hippies, da arte manufaturada
e levada à frente por centavos
Independente do que se faça com ela
Queremos o lirismo das redes,
O lirismo dos bitnicks e seus computadores revolucionários
A quebrar patentes, invadir sistemas e democratizar o saber
O lirismo popular não plastificado
Dos cordéis, do eletrônico, das cidades em fúria
Queremos o lirismo intergalático
Sem fronteiras, limites ou contenção
Queremos o lirismo além-mar
Afinal, qual é a responsabilidade do artista
senão eternamente transformar?

(Akira Riber Junoro. Manifesto Potencialista.)

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