O DIA EM QUE MORRI

terça-feira, outubro 05, 2010 0 comentários
INTRODUÇÃO MORTAL:

Já tinha escrito o que havia sentido naquele dia. Fiquei tão atormentado que procurei coisas para fazer que me distraíssem e me tirassem aquela sensação ruim que senti após a minha morte em vida. Acabei indo para a internet, pesquisar algo nos sites “cheios de confusão, aventura e magia”, deparando-me com a notícia a seguir, pra lá de divertida. Aí, o que era para ser uma crônica séria, virou um bem humorado (espero) caso de consolo prévio.
A NOTÍCIA


HOMEM ANTECIPA SEU VELÓRIO PARA PARTICIPAR
Um inglês resolveu antecipar seu velório para que pudesse "celebrar" junto a amigos e parentes. John Noble, 52 anos, recebeu previsão de alguns meses de vida depois que os médicos o diagnosticaram com esclerose lateral amiotrófica.
Ele resolveu convidar 120 familiares e amigos para uma festa em sua cidade, Bristol, segundo o jornal The Sun. "Foi uma noite incrível. Todos se divertiram e eu estava feliz. Eu pude dizer adeus ainda vivo. Eu não fiquei triste", contou ele.
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A CRÔNICA


O DIA EM QUE MORRI

Minha morte se deu no sábado passado. Fui contar pra todo mundo e me disseram que foi um sonho.  Mas eu estava acordado vendo tudo que se passava ao meu redor. Até dei uma ajeitada na posição. Não fiquei naquela clássica, de barriga para cima, com as mãos cruzadas sobre o peito. Virei de lado como faço para dormir todos os dias. As cores começaram a surgir numa seqüência que, acredito ser mais bonitas do que as de um arco íris Se a história ficar parecendo coisa padronizada é porque a morte sem sofrimento deve ser assim mesmo. Naquele momento todos os pensamentos de apego às coisas terrenas passaram tão nítidos quanto rápidos na minha cabeça e confirmaram a certeza de que o que fica é que tem que ser resolvido. Não pensei em nenhum legado ou tive algum peso morto para levar comigo O fato é que almocei regiamente, me deitei e logo em seguida, me foi anunciada a sentença. Ocorre que fui acometido de uma alegria que ninguém deveria confessar sendo em caso de seu fim. Mas, confesso que morri. E foi com uma alegria tamanha, que se fotografassem iam poder ver meu sorriso tenro, que é uma coisa que o agente funerário não consegue disfarçar na hora de vestir o defunto. Daí a dispensa da maquiagem que eles usam para recompor a cara digna para um defunto apresentar nas suas exéquias... Quem vai, vai satisfeito. Não me perguntem depois, sobre como é o lado de lá, que isso eu acho que já vi foi em relato de quem esteve em coma desenganado e voltou. Eu, não! Eu fui mesmo. Só acordei com  a cachorra latindo insistentemente no portão. Não deu tempo de saber. Nem de sofrer. E não quero incentivar a ninguém que esteja assim triste com a existência, achando-se no último estágio entre a realidade dura e uma tênue esperança de uma coisa melhor, pois a morte é única. Não dura mais que um parágrafo.


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