Por SJM,
Certo dia você levanta, vai ao banheiro e lava o rosto. Toma café, mas nota um certo silêncio perturbador. Olha pela janela e se sente estranho ao constatar que as ruas estão vazias. Liga a TV já no canal de costume, está fora do ar. Troca, e os outros também, todos. Você se sente ainda mais estranho, vai até o quarto de algum familiar e vê que ela ainda dorme. Vai ao outro e também. Todos dormem. Intrigado, você decide acordar alguém e então percebe que eles não acordam. Nesta hora, já muito nervoso, já se deu conta de que algo está muito errado, muito mesmo. Você procura manter a calma, decide procurar ajuda pois seus familiares não despertam. Telefone! Você decide usar o telefone mas é em vão, está mudo.
Você tenta manter o controle, mas já está quase em pânico, sai na rua e invade a casa dos vizinhos. Todos, todos dormindo.
Você não aguenta, para você tudo aquilo é um sonho, você deseja acordar. Em vão.
Você volta para sua casa, para seu quarto, sua cama, e dorme também.
Isto é real, outros já passaram por isto mas de forma gradual para evitar este choque. Alguns demoraram décadas para acordar completamente e assim percebiam que seus iguais continuavam a dormir. Outros também iam acordando devagar, eram apenas alguns em um milhão. Buscam a companhia um dos outros que também vão despertando, buscando respostas: ”o que acontece?!”, “por que acordei?!”, “por que dormia?!”, “por que os outros não acordam?!”
Obtendo parte das respostas, passavam a trabalhar para que outros acordassem também.
Quem dorme não vê quem está acordado.
Falam dormindo.
Para eles, todos dormem.
Publicado no blog Sub.vertente
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3 comentários:
Isso é um conto do realismo fantásctico do mais alto nível. Abraços. Paz e bem.
E quem vive acordado busca anestesicos para conseguir também dormir ou apenas para suportar a dura realidade de conviver com tanta gente dormindo.
Cara, esse conto levou-me a Saramago. Triste essa perda na literatura fantastica.
"Estou acordado e todos dormem. Todos dormem, todos dormem" - Renato Russo.
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