E eis que depois de Kyoto, Rio e Compenhagen, o mundo não chegou a um acordo quanto às mudanças climáticas. Também não chegou a acordo nenhum depois de Davos, entre os países e homens mais ricos do mundo. E o fórum social mundial reunia separada a turma que não concordava com as deliberações daqueles foros. Então foi marcada uma conferência já que o mundo estava na iminência de acabar de verdade. Derretimento de geleiras, um calorão danado em alguns lugares, frios cortantes em outros, inundações em todo o globo terrestre e o mar mandava avisar na Califórnia e algumas partes do Mediterrâneo que ia invadir as praias nos calçadões, monumentos e tudo o mais que encontrasse pela sua frente, inclusive os quiosques da cervejinha e água de côco. O mar quando não tá pra peixe, segura-lo, não é moleza não!
Estavam lá banqueiros de toda sorte e moedas, industriais das petroquímicas, de fertilizantes e agrotóxicos e todos os mais significativos representantes do lado poluidor, além dos donos dos maiores meios de comunicação do mundo. Os diálogos foram travados:
- Bota a culpa no povo. Porcaria tem limite. Temos que educar essa gente.
- Não tem problema, já inventamos um produto, o “spray general clean”.
Chiadeira dos americanos:
- Com esse nome, o pessoal do fórum social vai dizer que a culpa de tudo seria nossa! Isso é nome de produto americano. Então, um outro propôs um nome latino, que aí não teria problema. O povo acredita.
- Tranqüilizem-se senhores, a gente ainda vai lucrar muito com isso. Agora, é preciso que imprensa faça a sua parte em campanhas nos seus jornais, programas, e principalmente massacrem de propaganda que estimulem o sentimento de culpa e que vendam a redenção. É infalível. No fim, vão continuar acreditando que a responsabilidade é deles mesmos.
Um representante parecendo lúcido protestou:
- Mas quem polui mais, a ponto de causar o tão falado efeito estufa, reduzir a camada de ozônio são os grandes.
- Ora, de onde é mesmo esse homem? Protestaram quase todos em uníssono.
- No mínimo é comunista ou de algum país pobre que conseguiu entrar aqui sem autorização. Era um especialista contratado por eles mesmos.
Era preciso achar uma saída para depois que a porta de saída do evento de abrisse. A imprensa mundial estava ávida, lá fora, esperando para dar novidades em tempo real - não climático - para a população. Aquela tradicional briga de repórteres se acotovelando para garantir um furo, uma entrevista exclusiva, uma informação bombástica, algo impactante tanto quanto a questão discutida com tanta “seriedade e resolução”. Protocolos e cartas de intenção não colam mais. Lá dentro, os donos das redes de comunicação combinaram com os presentes para cada um falar uma posição diferente, quer dizer, uns contra , outros a favor das medidas discutidas. Até as polêmicas serem entendidas pelo mundo já ia estar próxima a data da outra reunião dos líderes mundiais para discutirem novamente o assunto. E o mundo não deverá acabar antes disso.
P.S: O fato de esta crônica não ter sido publicada no dia mundial do meio ambiente não quer dizer que o cronista empurrou com a barriga a discussão do problema, como é feito com a questão ambiental.
Cacá
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