As soluções prontas são um balde de água fria no hábito de pensar. Antigamente as coisas iam acontecendo e os recursos eram escassos. Enquanto faltavam técnicas apuradas por um lado, abundavam pensamentos por outro. O homem ia vendo as coisas, os fenômenos naturais e ia teorizando, esperando socorro. Foi assim que nasceu a filosofia. E como tinha pouca gente para pensar, os mesmos filósofos viram que tinham que resolver os problemas eles mesmos. Tanto que viraram cientistas também. Enquanto deixavam o pensamento vagar em observações no cosmos sob o sol, luares e estrelas, iam fazendo umas continhas, misturando umas substâncias, testando umas superfícies lisas ou ásperas e tomando anotações. Nasciam os astrônomos, fiscos, matemáticos e por ai afora.
Quando pensaram na dor, que remédio tinha a não ser teorizar? Teve gente que afirmava que com a dor se aprendia a viver melhor, uma forma de superação de adversidades. Ficar impassível diante da dor provocava uma elevação do caráter. Veio o tal do estoicismo. Uma aula com a dor. Era preciso aprender a cura, no entanto, pois muita gente não entendia o princípio e continuava sentindo dores. Além do mais quem poderia transferir para a alma, onde o suporte é maior, uma dor que tá doendo no braço, na perna, na barriga? Aí teve uns que começaram a estudar o corpo humano e a medicina foi aparecendo depois, devagar.
O que atrapalhou um pouco os planos, ou melhor, os pensamentos bem intencionados acerca da dor foram umas pessoas que passaram a sentir um certo conforto e prazer com ela. Eram os tais dos masoquistas atrasando o desenvolvimento da filosofia e da ciência. Pode uma coisa dessas? Como tudo tem uma reação, apareceram aqueles que gostavam de ver o sofrimento alheio e também sentiam prazer nisso. Eram os sádicos, tradicionais rivais dos masoquistas durante muito tempo. E bem mais à frente na história vamos ver que se aliaram. Muitos acabaram em moderníssimos motéis com chicotinhos, correntes, algemas e outros apetrechos, já que a sociedade começou a punir abusos em praça pública. Coisa de foro íntimo, eu nem tenho nada com isso.
Não falei dos hipocondríacos, uma categoria intermediária, mas deixa pra lá. O caso deles quase nunca envolve dor. Acho que se trata mais de carências da alma querendo algum reconhecimento e que são substituídas por aparentes doenças e muitos remédios. Se lhe derem umas pílulas de trigo ou maizena disfarçadas e disserem que resolvem os problemas muitos se curam com uma facilidade incrível.
Motivo dessa prosa toda? Eu estava andando de bicicleta e me deu uma dor danada no cóccix. Pode falar nos ossos da bunda? Não me levem a mal, não há intenções sádicas nem masoquistas. É que eu fiquei uns tempos parado e até me acostumar novamente não tenho outro remédio senão pensar e ir me exercitando. E cóccix é uma palavra muito difícil de ser pronunciada. Só de pensar dói.
1 comentários:
Tem um amigo meu que disse que sentir o coccix é um sintoma de filia (amor nas suas variadas formas). No teu caso o amor veio com a dor. Será masoquismo coccixiano? rs
Postar um comentário